Início Destaques do Dia Crise hídrica pode levar ao racionamento em Maringá

Crise hídrica pode levar ao racionamento em Maringá

A vazão do rio Pirapó caiu de 10 mil litros por segundo para 8 mil, e mesmo a cidade dependendo de apenas 1 mil litros por segundo, a diminuição gradativa do rio, que nasce em Apucarana e desagua no rio Paranapanema em São João do Ivaí preocupa e muito

Mesmo com as chuvas das últimas semanas está longe o fim do alerta para o problema de abastecimento de água doce e tratada nas cidades do interior do Paraná, como Maringá. O Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) aponta para precipitações abaixo da média do restante da primavera até meados do verão, agravando uma situação que já perdura há mais de dois anos. Também há uma pequena possibilidade de ressurgência do fenômeno La Niña entre os meses de novembro e janeiro. Causado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, a La Niña está associada a chuvas irregulares e abaixo da média no Sul do Brasil. O aumento no consumo de água foi até 20% maior em algumas localidades, como Maringá, que chegou a produzir 103 milhões de litros em um único dia. Em dias normais, a produção é de 86,4 milhões de litros/dia. A cidade tem registrado temperaturas máximas em torno de 40ºC nos últimos meses.

A vazão do rio Pirapó caiu de 10 mil litros por segundo para 8 mil, e mesmo a cidade dependendo de apenas 1 mil litros por segundo, a diminuição gradativa do rio, que nasce em Apucarana e desagua no rio Paranapanema em São João do Ivaí preocupa e muito. A Sanepar também investiu em poços artesianos profundos, de mais de 100 metros, para garantir pelo menos 30% do abastecimento. O que se teme é que aconteça o mesmo que ocorreu no Rio Ivaí que, apesar de ter uma maior vazão, foi mais afetado pela crise hídrica do estado.

Segundo o Simepar, três em cada quatro mananciais usados para a captação de água no Paraná estão com os índices abaixo do normal, sendo que 31,75% deles se encontram em situação de estiagem. O nível médio dos reservatórios do Sistema de Abastecimento de Água Integrado de Curitiba (SAIC) está atualmente em 48,88%, de acordo com a atualização diária da Sanepar.

Por enquanto não há indicação de racionamento ou rodízio para a cidade de Maringá, mas o baixo nível do rio Pirapó, onde a captação é feita, tem feito aumentar a preocupação das autoridades que já dispõe de um documento oficial emitido pelo próprio governador Ratinho Junior que permite a tomada desta medida a qualquer momento.

O documento autoriza as empresas de saneamento a adotarem medidas que garantam o abastecimento público – como os rodízios de água, por exemplo – priorizando o uso dos recursos hídricos para esse fim. Com isso, o Instituto Água e Terra (IAT) poderá restringir a vazão outorgada para outras atividades, com o objetivo de normalizar as captações. Ele autoriza os órgãos estaduais a empregar recursos humanos e materiais, veículos e equipamentos para auxiliar nas operações de abastecimento humano e dessedentação dos animais.

As empresas que prestam serviços de saneamento ficam autorizadas a executar rodízios de 24 horas, desde a interrupção até a retomada do abastecimento, com prazo para normalização de mais 24 horas. Esses limites podem ser extrapolados em situações emergenciais de manutenção ou por força maior, devendo ser comunicadas para a população e órgãos de fiscalização.

As medidas levam em conta as previsões meteorológicas e têm respaldo, também, na Resolução número 77 da Agência Nacional de Águas (ANA), que declarou situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídricos na Região Hidrográfica do Paraná até novembro de 2021.

Produção recorde

As mais altas temperaturas da história, registradas no Paraná este ano, elevaram o consumo de água em todo o Estado e demandaram produções recordes da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Em muitos sistemas, mesmo a produção 24 horas por dia não foi suficiente para atender a população, principalmente onde a estiagem tem provocado redução na vazão de poços e rios.

Em Londrina, o calor também provocou aumento recorde no consumo de água, que chegou a 250 milhões de litros em um dia: o maior volume consumido até então havia sido de 235 milhões de litros num único dia, em 2017. A produção da Sanepar foi 17% a mais do que a média de verão.

Apucarana teve queda expressiva na vazão dos mananciais superficiais e subterrâneos, reduzindo em 10% a capacidade de produção de água na cidade. Mesmo assim, a Sanepar produziu 36 milhões de litros, 15% acima do normal,  em um único dia. Em Cascavel, na Região Oeste, o consumo chegou a 76 milhões litros/dia, volume 15% maior do que os 66 milhões litros/dia produzidos no mesmo período do ano passado. Francisco Beltrão atingiu o máximo de sua produção diária, com 18,4 milhões de litros, 12% a mais do que a média de 16,5 milhões de litros/dia.

O consumo de água em Umuarama foi de 26 milhões de litros, 18% maior que o registrado para o mês de outubro, que é de 22 milhões de litros. Em Toledo, ainda no Oeste, outro recorde histórico: foram produzidos 29,8 milhões de litros, que significam 16% a mais. E em Cafelândia o volume de água distribuído chegou em 3,55 milhões de litros por dia, 20% acima da média.

O pico no consumo e os níveis baixos dos reservatórios, devido à queda na vazão de rios e poços, provocaram desabastecimento pontual em bairros e regiões mais altas e afastadas dos centros de distribuição de água de muitas cidades. Foi o que aconteceu em Apucarana, Mauá da Serra, Faxinal, Lunardelli, Jandaia do Sul, Cambira e Califórnia. O mesmo foi registrado em Santa Mariana, Ibaiti, Florestópolis, Bela Vista do Paraíso, Arapongas, Rolândia, Centenário do Sul, Sabáudia, Astorga, Floraí, Paiçandu, Floresta, Ivatuba, Paranavaí, Itapejara, São Jorge do Oeste, Francisco Beltrão, Marmeleiro, Palotina, Toledo, Marilena e Pinhão. Até caminhões-pipa tiveram que ser utilizados para minimizar a situação, conforme a demanda dos sistemas.

“Estamos batendo todos os recordes de produção, com as estações operando 24 horas por dia. Em muitos lugares, a estiagem já reduziu a vazão de rios e poços. A previsão meteorológica indica que teremos uma primavera com chuvas abaixo da média, como vem ocorrendo desde 2019. As temperaturas máximas também estão batendo recorde. Será necessária muita consciência no uso da água em todo o Estado”, afirma o diretor de Operações da Sanepar, Sergio Wippel. 

Anomalias climáticas

O diretor-presidente do Simepar, Eduardo Alvim, explica que a anomalia nas precipitações atingem todas as regiões do Paraná, com casos extremos de estiagem em partes do Oeste, do Sudoeste e do Centro até o Norte Pioneiro. Somente no Litoral e no Noroeste a situação é moderada.

“Tivemos períodos muito ruins em meados do ano passado, com o inverno e a primavera com precipitação muito baixa. Isso vem se acumulando há pelo menos dois anos, com chuvas abaixo do normal”, diz Alvim. “Cumulativamente, essa condição vai depreciando as reservas naturais de água no solo, com reflexo na disponibilidade hídrica nos rios, reservatórios e poços de abastecimento. Quando essa situação se perdura há muito tempo, acaba exigindo a adoção de medidas extraordinárias para priorizar o uso dos recursos hídricos”.

O IAT, responsável pela outorga de uso dos recursos hídricos e autorizações ambientais, fará ações emergenciais destinadas ao abastecimento público, priorizando as demandas das prestadoras de serviços com essa finalidade. O órgão também avaliará as restrições da vazão outorgada para atividades agropecuárias, industrial, comercial e de lazer, para normalizar as captações voltadas para o abastecimento público.

O brasileiro consome em média 130 litros de água por mês contra 90 litros do europeu. Se cada brasileiro baixasse seu consumo para pelo menos 110 litros, o racionamento poderia ser evitado. Uma questão de mudança de hábitos, uma vez que o desperdício de água tratada é muito grande. Basta ver todos os dias em Maringá as calçadas de edifícios, casas, empresas sendo lavadas com o bem mais precioso do mundo como se nunca fosse acabar.

Jorge Henrique Lopes de Oliveira
Foto – JHL

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