Não há em Marialva quem não conheça a história do pedreiro Edson Aparecido de Carvalho, de 50 anos. Desde 2007 ele dormia dentro de uma tumba no cemitério da cidade. O jazigo era protegido por uma casa de alvenaria, uma “carneira” como se dizia antigamente. Foi naquele espaço que Edson fez sua morada onde pernoitou nos últimos 15 anos. Até se mudar para o cemitério, Edson dormia na estação rodoviária de Marialva, mas acabou sendo expulso de lá, sob o argumento e que não poderia fazer do espaço público a sua moradia. Usando então suas habilidades de pedreiro, ele adaptou o mausoléu às suas modestas exigências.
Depois de ser expulso da Rodoviária ele disse que foi contratado para fazer um túmulo no cemitério de Marialva e viu nas proximidades uma capelinha vazia. Trabalhadores mais antigos do lugar disseram pra ele que os restos mortais depositados ali haviam sido transferidos pela família dos mortos para Campo Mourão e que nunca mais apareceu ninguém se apresentando como dono do “imóvel” de 3m2. “ Daí pensei, pronto, encontrei minha casa. Tinha dia que eu nem saia do cemitério, trabalhava por aqui fazendo pequenos consertos, eu faço de tudo que precisar. Ficava o dia trabalhando e depois ia dormir”, relembra Carvalho.
Ele disse que nunca teve medo de dormir no cemitério que para ele é um local comum, que ao contrário de dar medo, traz é paz. Ele ironiza: “Nunca tive queixa dos vizinhos. Barulho? Nem pensar, aqui é um sossego só”. Ele também não se importava com os apelidos “Cemitério” e “Morto Vivo” que ganhou do povo de Marialva. Mas para ele, os que o chamavam assim era com carinho, nunca debochando dele.
“Eu mal cabia lá na sepultura. Tinha que ficar com a perna encolhida. Nessa parte era ruim. Teve uma vez que eu deixei as pernas para fora e a cabeça coberta. Uma senhora que veio logo cedinho viu aquela cena das minhas pernas para fora e saiu correndo (risadas). Ela achou que era um corpo. Olhou e pensou: o que é isso? Saiu correndo, mas logo depois entendeu que era eu”, contou Edson.
No interior do iazigo ele usava barbante para pendurar suas roupas e dormia sobre um colchão fino, protegido embaixo por papelão para conter a friagem. Banho ele tomava no banheiro público do próprio cemitério para onde recorria à noite em caso de necessidade. Com o dinheiro que ganhava no seu trabalho preferia comer sempre de marmita mas às vezes improvisava um fogão e cozinhava os mantimentos que recebia em doações.
Mas Edson não é mais habitante do cemitério, que ele tem hoje apenas como local de trabalho. Há 9 meses ele ganhou uma casa na cidade. Era um barracão ao lado de cemitério que com o apoio da Prefeitura ele adaptou para casa. “Pra mim é quase um palácio”, disse, ressaltando que pelo menos agora eu tenho luz, água, chuveiro quente e muita tranquilidade, principalmente para dormir”.
Redação JP
Foto – GMC