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“E você duvida?…”

“Queira Deus que ele saiba o que está sonhando”. Era o que então se ouvia na cidade, e foi o meu comentário no momento em que o jornalista Aristeu Brandespim me mostrou o desenho do grande artista Edgar Osterroht para a capa da revista “NP” de setembro de 1958.

    Dias depois, Aristeu e eu fomos à casa de Dom Jaime gravar uma entrevista com ele. Diante da maquete da futura Catedral de Maringá, fiz a primeira pergunta: “O senhor tem certeza de que pretende levar adiante tão ousado projeto?”.

     Ele riu e rebateu: “E você duvida?”…

     Não tive mais dúvida. Ele realmente sabia o que estava sonhando e tinha certeza de que viveria o bastante para ver o majestoso cone encostar nas nuvens levando as orações da comunidade pioneira. A Catedral foi inaugurada no dia 10 de maio de 1972. Dom Jaime esteve entre nós até o dia 5 de agosto de 2013. No próximo sábado fará 10 anos que o nosso primeiro bispo e primeiro arcebispo subiu de volta para a Casa do Pai.

     Lembro-me dele acompanhando cada etapa da construção do grande templo, desde o lançamento da pedra fundamental. Na época eu trabalhava na “Folha do Norte” e ajudei a registrar passo a passo a obra, tendo geralmente ao lado o querido amigo fotógrafo Moracy Jacques. Uma história muito bonita, movida a fé e arrojo. Hoje a gente passa em frente e a emoção continua batendo forte.

     Dom Jaime contava que, desde quando chegou a Maringá e dedicou a Catedral a Nossa Senhora da Glória, pensou num desenho que lembrasse a Assunção da Virgem Maria e ao mesmo tempo figurasse a população de mãos postas apontando para o céu.

     Viu depois num jornal a foto de um Sputnik (primeiro satélite espacial russo, cujo nome significa “companheiro de viagem a caminho do alto”), e ficou com aquilo na cabeça.

     Reuniu-se posteriormente com o arquiteto paulistano José Augusto Belucci e trocaram ideias. Dois poetas – ousados demais os dois. Belucci foi ouvindo e riscando traços numa folha de papel. “Pronto: é exatamente assim que eu sonho”, disse o bispo.

     Na primavera de 1958 a capa da revista “NP” exibiu a maquete. Alea jacta est. Dom Jaime sonhou. Belucci desenhou. O povo ajudou. Ganhamos um dos mais belos templos do mundo. Sursum corda.

     Provavelmente Maringá e Brasília tenham sido as únicas cidades no mundo a se tornarem sede de bispado antes de completar 10 anos. Dom Jaime chegou no dia 24 de abril de l957, recebido no antigo aeroporto Gastão Vidigal pela maior multidão que já se reuniu nesta região. Era um jovem de 40 anos, prontinho para se unir aos seus queridos diocesanos e dar início à grandiosa obra que ele aqui liderou ao longo de quase meio século.

     Foi um pastor que caminhou junto com o seu rebanho. A bênção, Dom Jaime.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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