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Não é pouca “porcaria”

      Nosso pai Dorisvaldo, o seu Dozinho, apelido que tem desde de criança, na sua sabedoria do quase analfabetismo, de alguém que nunca frequentou escolas, costumava dizer de forma elogiosa sobre pessoa que se destacava em alguma atividade, que tinha ‘crescido na vida’: ‘Fulano não é pouca ‘porcaria’.

      Papai, como aprendemos a chama-lo , retornou ao Mundo Espiritual em 2009, poucos dias antes de completar 80 anos de uma existência com muitas provações e certamente expiações, mas vitoriosa, menos por  sucesso material, mais pelo fato de, juntamente com Mamãe, terem gerado  corpos para a reencarnação de nove espíritos, seus filhos, todos com saúde,  ainda aqui presentes, e   tê-los ajudados nas fases iniciais das existências, quando todos somos totalmente dependentes, dando-nos educação, com exemplos de honestidade e ética.

      Nunca deixou transparecer que se achava alguém que, nas suas palavras elogiosas, pudesse ser considerado que não fosse pouca ‘porcaria’, mas para nós era. Pois começou como carreiro (condutor de carro de bois) e chegou a ser um respeitável pecuarista, passando por altos e baixos na atividade, e no final precisou da ajuda de nós, filhos e agregados, que não fizemos mais que a obrigação, em retribuição a quem tanto nos ajudou, dando-nos a coisa mais importante que temos na vida, a vida.

      Pai e mãe são missionários de Deus, com grande responsabilidade, nos diz Humberto Vasconcelos no seguinte texto:

 ‘Quando nasce um bebê em nossa casa ou quando nos dispomos a acolher uma criança nascida em outro lar, assumimos a mais grave e, ao mesmo tempo, a mais honrosa missão que Deus há concedido ao homem no planeta. Igualmente assumimos deveres impostos pelas leis civis, que reconhecem no lar a primeira escola, o primeiro hospital e o primeiro templo daquele pequeno ser, saturado de energia vital e de infinitas esperanças. Nós, os pais, assumimos, assim, deveres espirituais perante Deus e deveres civis perante os homens.

Assim é o despertar da consciência paterna, caminho auspicioso de nos identificarmos com o Pai Eterno, Criador da Vida, ou dele nos afastarmos, quando não alcançamos a dimensão humano-divina da paternidade.

A família, que é a célula fundamental da sociedade, é o lugar do Senhor, por isso que o lar é o domicílio da criatura humana. Domicílio é palavra de etimologia latina, que traz em sua estrutura a palavra domus, que quer dizer senhor. Logo, nosso domicílio é a Casa do Senhor. Nas sociedades antigas, o senhor era o patriarca. Hoje, por ação da mensagem de amor do Evangelho, o senhor da casa é o servidor do lar.’

Nosso pai, prossigo eu, na dureza dos mais antigos, não expressava seus sentimentos de maneira efusiva, e nunca soube que ele tenha dito que eu não era pouca ‘porcaria’, mas tenho certeza que se orgulhava do filho que saiu da roça para rodar o Brasil, como funcionário do maior banco do país, tendo chegado ao cargo de Gerente Geral.

E mesmo lá, do outro lado da vida, pode  melhor enxergar, deve aprovar a participação social, posições políticas e críticas do primogênito, reconhecendo seu direito de opinião.

Modéstia à parte, usando a ‘forma elogiosa’ do título, a julgar pelos resultados,  e o que algumas pessoas comentavam sobre nossa atuação, sobretudo como Gerente Geral, fico tentado a concluir que tive algum sucesso. embora nem todo sucesso seja pleno.

Não fui ‘pouca porcaria’, pensava: quando era recebido ou recebia deputados, senadores, prefeitos, diretores do Banco. Quando fiz discursos em eventos municipais ou viajei de primeira classe, em avião, junto com o governador do Ceará. Ou fui entrevistado por Solange Riuzin, para o Globo Rural, em 1991.

Mas foi a partir de 1996, quando me aposentei e conheci a filosofia espírita, que comecei a compreender que sou apenas mais um,  dentre os bilhões de seres humanos encarnados, criatura do Criador, o que, nas palavras de nosso pai , ‘não é pouca porcaria’, digo, ‘pouco coisa’, pois Deus não cria ‘porcaria’

Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução

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