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O buraco da agulha

Existe aquela metáfora segundo a qual é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do céu. Dá para entender a grave advertência, porém é preciso ter cuidado antes de tirar conclusões radicais.        

     Primeiro, é bom lembrar que há pelo menos dois tipos de ricos: os que enriqueceram honestamente e os que enriqueceram desonestamente. Segundo, vale reconhecer que muitos deles cumprem importante função social: criam empregos, pagam impostos, possibilitam a produção de bens para o sustento da humanidade. 

     Mas o ponto é outro: é que geralmente riqueza material implica maior risco de empobrecimento espiritual. Ou seja: deixa a pessoa mais vulnerável às tentações do mundo e portanto mais sujeita a errar o caminho na busca da felicidade. Daí ser natural supor-se que, em termos de eternidade, são eles, os ricos, os que mais necessitam de ajuda.

     Não, porém, apenas os possuidores de grandes fortunas em dinheiro e bens. No mesmo grupo estão igualmente todos os demais detentores de algum tipo de poder: os portadores de autoridade institucional, os profissionais liberais, os dirigentes de empresas públicas ou privadas, os líderes de entidades, enfim os chefes de modo geral.

     Quanto maior a parcela de poder, maior o perigo de se deixarem envolver pela ambição, egoísmo, vaidade, arrogância. Mas, ao mesmo tempo, maiores e melhores condições e oportunidades têm para praticar o bem.

     São pessoas geralmente dotadas de talento e de meios para mudar o mundo, por isso carregam consigo uma responsabilidade muito grande, razão pela qual é fundamentalmente importante receberem apoio espiritual. Tanto por uma questão de equidade – porque essas pessoas também têm o direito de purificar seus sentimentos; como até por uma evidente questão de inteligência – cada rico ou líder de algum setor da sociedade que se torna mais justo e mais generoso ajuda a melhorar a qualidade de vida de centenas ou milhares de pessoas menos afortunadas.

     Com a sua experiência administrativa e com a influência que exercem na comunidade, podem, por exemplo, colaborar grandemente na direção e sustentação de instituições assistenciais. Muitos deles já fazem isso e outros tantos decerto passarão a fazê-lo, na medida em que forem descobrindo o quanto o bem faz bem.

     O caminho então é este: ajudar os poderosos a nascer de novo, mudar o jeito de pensar e ser (mertanoia), de forma que, em vez de continuar usando seus talentos e posses apenas para benefício próprio, comecem a usá-los também para semear justiça social e democratizar a felicidade.

    Quanto melhores eles se tornarem, melhor para todo mundo.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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