
Nos antigamentes da vida, a vida era alegre e franca. Em junho bem mais, numa bem-humorada homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro.
A festança no terreiro. A fogueira no meio. O mastro com a estampa do santo na ponta. As barraquinhas de vender batata doce, caldo de cana, beijo de moça. As danças. As fantasias. A recitação.
Os casais formavam uma grande roda e cantavam modas. Após cada moda faziam uma parada, jogavam um dos participantes no centro e o obrigavam a dizer um versinho. Como estes:
· O meu pai é Juca Caco, / minha mãe Caca Maria; / ajuntando os cacos todos, / sou filho da cacaria!
· O meu chapéu tem três bicos, / três bicos tem meu chapéu; / se não tiver os três bicos, / então não é meu chapéu!
· Quando Deus moldou o homem, / não precisou cerimônia: / deu-lhe o corpo de um boneco / e a cara de um sem-vergonha…
· Fecha bem tua janela / quando te fores deitar… / No quarto de uma donzela, / nem a lua pode entrar!
· Não é por andar com livros / que a gente fica doutor. / As traças vivem com eles, devem sabe-los de cor.
· Eu não canto por cantar / nem por ser bom cantador. / Canto pra matar saudades / que tenho do meu amor.
· Senhora tão bonitona, / tira a roupa da janela… / Vendo a roupa sem a dona / penso na dona sem ela!
· Machado de Assis proclama, / e eu tenho que concordar: / “É melhor cair de cama / do que do terceiro andar”…
· Cuidado, mocinha ingênua, / com o que diz o garotão. / Discurso fácil nos lábios, / mentira no coração!
· O invejoso xinga e picha, / mas de nada adianta o estrilo: / – Quem nasceu pra lagartixa / nunca chega a crocodilo!
– Viva São Pedro!
A. A. de Assis
Foto – Reprodução