
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Maringá (HU-UEM) registrou 2.564 casos de tentativas de suicídio por intoxicação em ambientes domésticos nos últimos dois anos.
O dado representa cerca de 30% dos 7.923 atendimentos por intoxicação residencial realizados pelo serviço entre setembro de 2023 e agosto de 2025 e acende um alerta no início da campanha Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio.
De acordo com a coordenadora do CIATox, a enfermeira Márcia Guedes, os números foram extraídos do sistema de registros Datatox. O restante dos atendimentos nesse período corresponde a intoxicações acidentais, envolvendo principalmente medicamentos, produtos de limpeza e animais peçonhentos, como, escorpiões, cobras e lagartas.
A maioria absoluta dos casos, segundo Márcia, ocorre dentro das próprias residências, o que reforça a importância da atenção familiar, especialmente em domicílios onde há uso de medicação controlada.
Os dados parciais já são motivo de preocupação. Entre setembro e dezembro de 2023, foram registrados 1.266 atendimentos, dos quais 421 foram tentativas de suicídio. Em 2024, com a contagem feita ao longo de todo o ano, o número subiu para 3.825 atendimentos, sendo 1.234 tentativas. Já entre janeiro e agosto de 2025, foram registrados 2.832 atendimentos e 909 tentativas.
A coordenadora destaca que é comum os pacientes utilizarem os próprios medicamentos prescritos em seus tratamentos para tentar a intoxicação. Na maioria das vezes, são substâncias que estão facilmente acessíveis em casa, o que evidencia o risco de automedicação e o agravamento de quadros de sofrimento psíquico.
AJUDA
A psicóloga Emanuela Lucas Dias, responsável pelo Serviço de Psicologia do Hospital Universitário, explica que muitas das tentativas de suicídio estão ligadas a contextos de sofrimento emocional intenso, que podem ter causas múltiplas, como dificuldades financeiras, conflitos familiares, histórico de violência ou transtornos mentais. Ela ressalta que esses casos exigem acompanhamento multiprofissional e envolvem o trabalho conjunto de psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros e outros profissionais da saúde.
Entre os sinais de alerta para risco de suicídio, a psicóloga destaca mudanças bruscas de comportamento ou humor, falas de despedida ou que indicam perda do sentido da vida, comportamentos autodestrutivos e o relato de vivências recentes de luto, trauma ou crise emocional. Para Emanuela, é fundamental que familiares e pessoas próximas estejam atentas e ofereçam apoio sem julgamento.
ACOMPANHAMENTO
Os pacientes que chegam ao Pronto Atendimento do Hospital Universitário após uma tentativa de suicídio são acompanhados desde o primeiro momento por equipes multidisciplinares. A psicóloga Damaris Durski, que atua como referência no PA do HU, afirma que o suporte psicológico imediato é oferecido tanto ao paciente quanto aos familiares.
O CIATox de Maringá é um dos quatro centros de informação toxicológica do Paraná, junto aos localizados em Londrina, Curitiba e Cascavel. O serviço presta orientações presenciais e por telefone, tanto para a população quanto para profissionais de saúde, em casos de intoxicação por medicamentos, produtos químicos, plantas tóxicas, animais peçonhentos e outras substâncias.
Além dos serviços de saúde, a população conta com o apoio do Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento emocional gratuito e sigiloso, realizado por voluntários treinados. O serviço está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, por meio do telefone 188, além de atendimento por e-mail, chat e voip no site www.cvv.org.br.
Da Redação
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