
O número de afastamentos por transtornos mentais entre profissionais da rede municipal de ensino de Maringá quase dobrou em dois anos. Dados obtidos pela vereadora Professora Ana Lúcia, por meio do Requerimento nº 1236/2024, mostram que os afastamentos saltaram de 40 casos no primeiro semestre de 2022 para 79 no mesmo período de 2024, um aumento de 97,5%.
O levantamento aponta uma tendência crescente e preocupante de adoecimento mental entre educadores da rede, que conta com cerca de 6 mil profissionais, dos quais aproximadamente 3 mil são professores. Os diagnósticos mais recorrentes são de ansiedade generalizada (CID F41.1), transtornos depressivos recorrentes (F33.2), episódios depressivos graves (F32.2) e transtornos de pânico (F41.0).
A ansiedade generalizada, por exemplo, mais que dobrou: foram 37 afastamentos por esse diagnóstico em 2022, contra 89 em 2024. Já os casos de depressão grave e transtornos adaptativos mantiveram números elevados e contínuos. A vereadora classifica o cenário como alarmante.
“Não se trata apenas de estatística. Estamos falando de pessoas adoecendo silenciosamente dentro das escolas. Setembro Amarelo não pode ser só simbólico, saúde mental precisa estar no centro das políticas educacionais”, afirma Ana Lúcia.
Outro dado que reforça a gravidade do quadro é o crescimento dos afastamentos de longa duração. Casos com mais de 30 dias quadruplicaram no período, passando de 4 em 2022 para 16 em 2024. Afastamentos de duração média, entre 4 e 30 dias, também aumentaram, assim como os registros de curta duração, de até três dias, que subiram 55%.
Segundo a vereadora, os dados confirmam o impacto do ambiente de trabalho sobre a saúde dos profissionais da educação. “Os educadores estão enfrentando uma sobrecarga crescente, pressão por resultados, violência simbólica e, muitas vezes, falta de apoio institucional. É preciso reconhecer esse sofrimento e agir com responsabilidade.”
De acordo com a plataforma Saúde Mental na Educação, criado pela parlamentar, a situação em Maringá reflete um cenário nacional. Uma pesquisa da Nova Escola revelou que 21,5% dos professores brasileiros avaliam sua saúde mental como ruim ou muito ruim. Entre os principais sintomas relatados estão ansiedade (60,1%) e cansaço extremo (48,1%).
Diante do aumento expressivo nos afastamentos por saúde mental, a vereadora defende a implementação de uma política pública permanente de atenção psicossocial nas escolas. “A saúde dos educadores é a base da qualidade do ensino. Cuidar de quem cuida dos nossos alunos é urgente e indispensável”, conclui.
Segundo Bruna de Oliveira, professora da educação infantil, só quem está na profissão, consegue compreender o quão exaustivo é. “Amo minha profissão, mas tem dias que saio completamente esgotada. Imagine 25,30 crianças e apenas uma pessoa para dar conta de tudo, é fisicamente e mentalmente angustiante, é preciso muita força de vontade”, comentou.
Segundo o Estatuto do Regime Jurídico Único dos Funcionários Públicos da Administração Direta, Indireta e Fundacional do Poder Executivo e do Poder Legislativo do Município de Maringá, quando um profissional é afastado da Prefeitura de Maringá, o seu cargo não é ocupado por outro, mas sim fica vago até o retorno do funcionário ou a sua exoneração, caso o afastamento seja definitivo. Para lidar com essa ausência, a Prefeitura pode remanejar outros funcionários para cobrir as funções do cargo.
Em nota, a Prefeitura de Maringá informa que tem projetos e políticas públicas voltadas à saúde mental dos profissionais da educação. A Secretaria de Gestão de Pessoas (Segep), por meio da Diretoria de Saúde Ocupacional e da Escola de Governo, implantou neste ano o projeto ‘Cuidar de Quem Ensina’, voltado para gestores educacionais e que inclui módulos sobre saúde mental e comunicação não violenta. O Núcleo de Justiça Restaurativa também desenvolve ações voltadas para o acolhimento, promoção do diálogo e resolução de conflitos.
Além disso, há o programa ‘Um Outro Olhar’, que desenvolve ações de promoção e prevenção à saúde mental dos servidores de todos os setores. Por meio da iniciativa, os servidores são acolhidos com escuta qualificada e são atendidos por equipe multiprofissional, formada por assistente social, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
O programa inclui visitas nos locais de trabalho, orientação quanto ao desempenho laboral consoante à situação de saúde, atividades coletivas de educação em saúde e encaminhamento para tratamento específicos, quando há necessidade.
Alexia Alves
Foto – Reprodução
