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Polícia divulga novos detalhes da chacina de Icaraíma

Diogo e Alencar (de chapéu) conversaram por celular e o sitiante demonstrou medo de morrer

Em conversa de WhatsApp, o sitiante que contratou cobradores para receber uma dívida, revela temor, pois tinha acabado de saber que o seu devedor estaria envolvido com o crime organizado

A execução de quatro homens em agosto no município de Icaraíma continua repercutindo nacionalmente. Parece um filme em Cinema Scoop: há muito mais tela pela frente, enquanto o cavalo do tempo corre desembestado. A cada semana brota um fato novo no caso da morte do proprietário rural e dos três homens que ele contratou em São Paulo para receber uma dívida no distrito de Vila Rica do Ivaí.

No começo dessa semana a própria Corregedoria da Polícia Civil do Paraná admitiu publicamente em nota o envolvimento (por enquanto indireto) de dois policiais no caso. Eles teriam ajudado na fuga dos suspeitos Antônio e Paulo Ricardo Buscariollo (pai e filho), com mandados de prisão preventiva decretados e ainda foragidos. Agora, conforme o delegado Gabriel Menezes, há indícios de que os Buscariollo estariam envolvidos com tráfico de drogas e contrabando de cigarros.

Perícia realizada no celular de Diego Henrique Afonso levou a Polícia a descobrir diálogos entre ele e o contratante Alencar Gonçalves de Souza Giron, quando os três homens estavam viajando de São Paulo para Icaraíma, onde efetuariam a cobrança da dívida de R$ 250 mil, com metade desse valor para ser dividida entre Diego, Robishley Hirnani de Oliveira e Rafael Juliano Marascalchi.

Alencar dizia que tinha medo, porque ficou sabendo que Antônio Buschariollo, o devedor, era envolvido com muita coisa errada, como por exemplo, contrabando de cigarro e tráfico de drogas. Do outro lado da linha, Diego tentava acalmar o cliente: “Fique tranquilo, não vai acontecer nada. A gente tem muitos anos nesse tipo de cobrança. Se o devedor é da pesada, fica até mais fácil. Ele vai ver com quem está lidando”. Disse mais: “A gente não é aqueles cara que chega lá, Zezão pra receber e… aqui não leva desvantagem não, aqui é grande. Aqui é grande e aqui recebe e ninguém vai por a cara com você. Ô Alencar, eu tô falando com os colegas aqui, deixa eu te falar uma coisa: Nossas cobranças cara, não tem justiça da pessoa querer ir atrás de você fazer isso, aquilo tá? Nós somos muito forte, ninguém põe a cara com nós. Você fica protegido por nós. Você fica tranquilo que o cara vai saber com quem que ele tá lidando, porque nós já passa a letra pro cara, cê tá entendendo? Você não tá lidando com cobrador Zezão não, entendeu? Então isso daí você pode ficar tranquilo. Se você tiver com medo do cara fazer alguma coisa com você, tira isso da sua cabeça”.

No dia 5 de agosto, após o primeiro encontro entre os quatro homens e Antônio Buscariollo, Diego mandou um áudio para esposa dizendo que a situação estava complicada. Na conversa, ele menciona o envolvimento do principal suspeito com o tráfico: “Hoje tá um pega aqui do c******. Correria! O povo se escondeu. O bicho tá pegando aqui hoje, hein? Vai fazer esse trem dar certo aqui, mas nós estamos num pega meio brabo aqui. O cara trafica cigarro aqui, passa pro Paraguai, sem vergonha, malandro. Nós estamos meio espertos por causa de tiro, assim, dessas coisas, né? Mas vai dar certo, sim. Se Deus quiser, alguma coisa vai dar certo, né?”. 

No dia 6 de agosto os quatro voltaram à casa dos Buschariollo, na certeza de que a dívida seria quitada. Ao chegar, caíram numa emboscada. Os corpos foram encontrados semanas depois em vala comum em uma fazenda que, conforme apurado depois pelas Forças de Segurança, tinha vários bunkres e servia como esconderijo de drogas, mercadorias contrabandeadas e corpos de pessoas executadas pelo crime organizado. Os suspeitos Antônio Buschariollo e o filho Paulo Ricardo continuam foragidos.

Em 7 de agosto, um dia após o crime, a Polícia cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do patriarca da família Buscariollo e ele aceitou ir com o filho à Delegacia de Icaraíma. Os dois confirmaram que houve o negócio de compra e venda de uma propriedade, mas negaram a autoria dos quatro homicídios. Em seguida, desapareceram do distrito de Vila Rica do Ivaí com toda a família. Depois, mandaram dizer através de um advogado, que fugiram devido a ameaças. De acordo com o mapeamento que a Polícia Científica fez do passo a passo da execução, ao serem imobilizados no carro que usavam, os quatro homens foram levados até a cova onde seriam executados, em uma área de mata fechada. Em seguida o veículo Fiat Toro, foi levado até um bunker, onde foi abandonado. “Há imagens de câmeras de segurança que foram obtidas pela Polícia Civil que mostram o veículo Fiat Toro seguindo em direção ao local da cova logo após a execução, robustecendo a tese de que houve morte instantânea, seguida do enterro dos corpos e do veículo”, diz a polícia.

Redação JP
Foto – G1

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