
Cada qual com seu talento faz o quanto pode e sabe. Francisco produz a uva, Gustavo produz o trigo, Margarida faz o vinho, Genoveva faz o pão. Cada qual fazendo um pouco, terão todos seu quinhão.
Era assim que Deus queria ver girar a economia. Não somente entre as pessoas, não somente entre as famílias, não somente entre as empresas, mas também entre as nações e os continentes também. E que bom se fosse assim… Mas que pena que não é.
Por egoísmo ou tolice, por ambição ou maldade, inaugurou-se a injustiça no seio da humanidade. Esqueceu-se o Deus do Amor. E ao trono subiram juntos os maus deuses das ruindades. E a vida virou uma guerra. E a Terra em armas se pôs.
De Caim versus Abel a Esaú versus Jacó. Dos gregos versus troianos a Roma versus Cartago. Do Leste versus Oeste aos azuis versus vermelhos.
Na ONU sentam-se os chefes, discursos de toda sorte, enquanto os mísseis se cruzam voando e espalhando a morte.
Em outros tantos assentos, rediscutindo tarifas, rediscutindo barganhas, sentam-se os donos de tudo: do petróleo ao grão de soja, dos rebanhos aos brinquedos, das fábricas de bolacha às montadoras de carros, dos bancos e dos navios aos times de futebol.
Roda, roda, gira a roda do mundo globalizado. Os donos ora se abraçam, ora brigam: euros, dólares, commodities. Quem pode mais come mais, quem não pode se sacode. E enquanto o pequeno geme, a pança do grande explode.
Num país sobra vacina, noutro falta esparadrapo. Uns poucos no extremo luxo, milhões na miséria extrema.
Zero em solidariedade, zero em cooperação, zero em sincera amizade, zero em leal parceria. Negócio, amigo, é negócio, e é tudo mercadoria. Pois tudo afinal se vende: o pão e o vinho se vendem, cultura e arte se vendem, as consciências se vendem, até o sorriso se vende, e às vezes a própria fé.
Porém, como Saulo, um dia… um dia esse mundo louco, essa louca economia, injusta, cruel, selvagem, podem crer, cai do cavalo, e por milagre se muda em geral fraternidade.
Seria isso utopia? Ou esperança seria?
Ao poeta é dado ainda o direito de sonhar. Sonhemos, irmãos, sonhemos, sonhemos um mundo bom, onde a paz seja possível e possível seja amar.
Possível será decerto destronar os deuses maus e ao trono levar o Deus da grande alegria, o Deus da geral ternura, o bom Deus da comunhão, que ensina a partir o pão.
Quem dera, irmãos, que esse dia um dia possamos ver.
A. A. de Assis
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