
O poeta paulistano Pedro Melo, em crônica recente, confessou que foi um guri ranheta e levado da breca. Se mais tarde se tornou um rapaz bonzinho, foi graças à boa e firme educação que recebera da mãe: “Mamãe me ‘domesticou’, arrancou as ervas daninhas do meu íntimo, amansou a fúria de um espírito quase indômito. Quem me conhece talvez ache que estou exagerando. Mas eu era uma criança difícil, de gênio bravio, impulsivo e inconsequente. Dei muito trabalho a ela, mas valeu a pena. Com ela aprendi a ter bons modos, pedir a bênção aos meus tios, tratar as mulheres com respeito e igualdade e não ser machista, ser pontual e cumprir minhas obrigações, chamar os mais velhos de ‘senhor’ ou ‘senhora’. Sobretudo, ela me incutiu a crença em Deus, a reverência a um Ser Superior”.
Súbito pensei: o Pedro é então uma sinédoque ou metonímia da história humana. A humanidade é quenenzinho se fosse um guri rebelde e inquieto que Deus criou com máximo amor e faz tempo vem tentando civilizar, na esperança de algum dia vê-lo apto a ser transferido para um lugar bonito e alegre chamado Céu.
Tal qual foi o menino Pedro, assim é a filharada de Deus: uma criançada “difícil, de gênio impulsivo e inconsequente”. Tem dado muito trabalho ao Pai, mas vale a pena insistir. Falta ainda arrancar muita erva daninha, porém a essência é boa.
Deus é um Pai paciente e entende muito bem de crianças. Vai deixando a gente fazer traquinagens, dar topadas, cair-levantar, dar de cara na parede. Adota a velha didática do aprender errando. Errando e aprendendo, numa hora dessas a gente finalmente toma tenência na vida, pega rumo e vira gente de verdade.
O Pai poderia simplesmente dar um “stop” nessa maluquice geral, pronunciar um novo “Fiat” e num de repente mudar a cabeça, o coração e a alma da filharada toda, deixando todo mundo bonzinho. Estaria assim inaugurada a era do pleno amor.
Ninguém mais brigaria com ninguém, ninguém mataria, ninguém roubaria, ninguém mentiria, ninguém humilharia os diferentes, ninguém faria maldades contra os mais fracos, ninguém mais fabricaria bombas e mísseis, ninguém mais morreria de doenças tipo egoísmo-ambição-inveja-raiva-rancor-arrogância-preconceito.
Só que o Pai prefere deixar a gente aprender por experiência própria. Desse jeito o aprendizado será mais consistente. Quando Ele achar que chegou a hora, reunirá a filharada toda numa grande festa. Até lá, poeta Pedro.
A. A. de Assis
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