No auge dos seus 14 meses de vida, meu filho deve ter pouco mais de meia dúzia de dentes na boca, e mesmo assim tem o sorriso mais bonito de toda esta vida. Ele acorda sorrindo e há uma satisfação imensa no despertar, ao notar que mais uma noite já passou, que os seus pais vão retirá-lo do berço e que agora ele está pronto para brincar como se não houvesse amanhã.

Quanto tempo vai durar este sorriso? Gostaríamos que fosse para sempre, mas o mundo é duro, o dinheiro e o poder sempre falam mais alto, e há uma série de coisas que tendem a tirar a paz de qualquer um. Um sorriso pode durar pelo menos vinte anos?

Duas décadas. É esse o tempo que nos separa dos Ataques de 11 de Setembro de 2001, marca indelével que carimbou os livros da História contemporânea e que compõe a chamada guerra contra o terrorismo lançada pelos Estados Unidos da América.

Eu tinha 15 anos de idade quando as torres gêmeas caíram e talvez seja uma de minhas últimas memórias inocentes, à época participava de um carteado dentro de um ônibus de estudantes, mais uma aula de Física cabulada no Gastão Vidigal e uma tevezinha anunciando uma possível Terceira Guerra Mundial enquanto imagens exibiam, ao vivo, aviões se chocando contra o World Trade Center. Éramos jovens e não sabíamos ao certo a dimensão daquilo tudo.

Quando foi que deixamos de sorrir? Você se lembra? Em 11 de setembro de 2001, eu recordo bem, era enorme o contentamento proporcionado pelas caminhadas pelo Centro e Zona 7 de Maringá, uma aventura anarquista de um adolescente que se contentava com bons amigos ao lado, uma baguete de calabresa na Max Pão (ainda existe esta padaria ao lado dos Blocos de Letras da UEM?), um carteado, litros e litros de coca-cola gelada, e tinha que ser garrafa de vidro!

O tempo da inocência se desmorona como num castelo de cartas, e parece que ninguém está muito disposto a ensinar algo importante para todos: fora de casa, é bem fácil não sorrir. Passados vinte anos, ainda ressoa o desmoronamento das torres gêmeas pelo mundo todo, e ninguém está para brincadeira, para sorrisos descompromissados, para um momento de paz comendo um quitute numa padaria qualquer.

Fico pensando na brevidade da vida ao notar que vinte anos passaram bem rápidos. E agora maquino alternativas de dosagem entre apresentar o mundo real para o meu filho ou colocar em risco o sorriso mais bonito de toda esta vida, na tentativa de alertá-lo sobre os perigos de se mostrar os dentes neste mundo, onde arranha-céus são postos abaixo em questão de minutos. Coisa para se pensar pelos próximos 20 anos.

Wilame Prado
Foto – Reprodução

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