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No cérebro, o mal sempre vence o bem

Deixa eu te dizer uma coisa: somos mais atraídos para as coisas ruins do que para as coisas boas. Quando diz respeito ao nosso cérebro, o mal vence o bem. 

Ei, não precisa se assustar. Nem estou falando uma heresia. Tampouco estou no campo espiritual. Nossa conversa aqui é sobre um fenômeno psicológico importante. E você vai entender rapidinho o quanto este assunto é sério, e bastante verdadeiro. 

Vou começar dando um exemplo: imagine que uma pessoa que você ama demais terá que fazer uma cirurgia. O médico conversa com você, explica os procedimentos e, por fim, te diz o seguinte: “olha, preciso te alertar, essa cirurgia é bastante segura, mas existe 5% de chance dela não sair viva do centro cirúrgico”. 

Conseguiu imaginar a cena? Agora, pergunto, deu um friozinho na barriga ou não? Você pensou nesses 5% de risco ou só lembrou dos 95% de chance de dar certo? 

Se você é como a maioria das pessoas, esses 5% vão te incomodar. Se o seu sistema racional é bastante treinado, você vai dizer pra você mesmo: “calma, a chance de dar certo é 95%, o risco de 5% é só estatística; é insignificante.”

Esse diálogo interno, porém, provavelmente será intenso durante algum tempo. Os 5% vão parecer muito mais representativos do que de fato são. Na prática, você só vai respirar totalmente aliviado, quando a cirurgia terminar e o médico aparecer pra te dizer: foi um sucesso! 

Um estudo internacional com o título “Bad is stronger than good”, de autoria de Baumeister, Bratslavsky, Finkenauer e Vohs, divulgado em 2001, trouxe revelações importantes sobre como o mal tem mais força do que o bem em nosso cérebro. 

O mal geralmente diz respeito a situações que têm resultados desagradáveis, negativos, prejudiciais ou indesejáveis para as pessoas, enquanto o bem se refere a situações que têm resultados agradáveis, positivos, benéficos ou desejáveis. 

Eventos negativos têm um impacto maior sobre nós do que eventos positivos. Por exemplo, você foi convidado para fazer uma apresentação na empresa (escola, igreja – escolha o exemplo). Vinte pessoas te assistiram. Cinco delas vieram falar com você e te elogiaram. Horas depois, quando você já estava em casa, um amigo te mandou mensagem e disse que uma certa pessoa que você conhece, que estava na sua apresentação, falou mal do que você apresentou. 
Note, cinco pessoas elogiaram logo após a apresentação. Somente horas depois, e por uma fofoca, você ficou sabendo que alguém não gostou. 

Qual a chance desse único comentário negativo te incomodar mais do que os cinco elogios te alegraram? Provavelmente, se você é como eu, esse único comentário negativo, que você nem sabe se aconteceu de verdade, vai te fazer questionar a sua performance, a qualidade de sua apresentação. 

O efeito desse fenômeno psicológico vai mais longe… 
Uma amizade que demorou anos sendo cultivada pode ser destruída depois de uma único episódio negativo. Um funcionário que foi leal e produtivo por dez anos pode ser demitido após um único deslize. 
As coisas boas nos impactam menos do que as coisas ruins. 

E por que isso acontece? Porque, instintivamente, reagimos de forma preventiva. É como se o nosso cérebro tivesse sido programado para se defender. É uma espécie de instinto de sobrevivência. Por isso, há uma atenção maior ao que existe de ruim. A sobrevivência e o bem-estar das pessoas parecem exigir atenção mais urgente para evitar resultados ruins do que abordar bons resultados.

Essa constatação sobre o que chama mais atenção do nosso cérebro tem implicações importantes. Uma das mais significativas diz respeito aos nossos relacionamentos, sejam com amigos, com nossos parceiros e parceiras ou nossos filhos. 

Não basta um relacionamento ser extremamente prazeroso e produtivo em alguns aspectos, se outros estão sendo negligenciados. Às vezes, coisas pequenas, negativas, ganham mais importância do que todas as outras coisas boas que acontecem e isso pode causar marcas profundas. Por isso, comportamentos de compensação têm pouco valor. O que há de mal, ainda que não seja tão expressivo, nos casamentos e amizades, pode determinar separações, rupturas; com os filhos, mágoas que, talvez, só muita terapia possa resolver. 

Portanto, lembre-se, nosso cérebro, naturalmente, foca no que há de ruim, no mal. Reconhecer que funciona assim nos ajuda de pelo menos duas formas: questionar a veracidade da negatividade e colocá-la em xeque quando aparece em nossa mente e investir de maneira preventiva para não plantar sementes ruins em nossos relacionamentos. Afinal, o que é mal sempre chamará mais atenção do que aquilo que é bom.

Ronaldo Nezo|
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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