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Liberdade de expressão e “bateu levou”

         
Talvez nunca se tenha falado tanto em liberdade de expressão e as reações que causam certas falas, especialmente de Bolsonaro e bolsonaristas, inclusive famosos.
           
Vejam, por exemplo, a repercussão nas redes sociais da situação provocada por postagem do jogador de vôlei Maurício Souza, que foi dispensado do Minas Tênis Clube, após a reação de patrocinadores  que consideram como homofobia a opinião do atleta, um assunto que passaria batido, não fosse a sede de comentá-lo. Para muitos a liberdade de expressão foi ferida de morte e Maurício teria todo direito de postar sobre o assunto, sendo desproporcional , a atitude de dispensá-lo . Outros condenaram a postagem, considerando justa a punição.
        
Qual grupo está certo?  O que ganhou Maurício de Souza em se meter num assunto, ‘nada a ver’ com sua atividade? Penso que exercer a liberdade expressão, muitas vezes é não se expressar, e certo está o grupo que não fica a favor, muito menos contra, em determinados temas, sempre melindrosos, mas aprende com o episódio.
        
Talvez por inexperiência ou insuflado pelas próprias redes sociais, pois seu número de seguidores, provavelmente muitos realmente homofóbicos, aumentou bastante, tenha faltando ao jogador humildade, ou mesmo inteligência para recuar e pedir desculpas sinceras, especialmente para um colega de profissão, Douglas, mas pelo contrário, trocou fardas, numa típica atitude do ‘bateu levou’ .
        
É certo pautarmos nossa vida na base do bateu levou?  Vejamos o que disse o Mestre de Nazaré, modelo e guia para nossas atitudes, Jesus e um comentário sobre a passagem narrada   em Mateus, V: 38:42: ‘Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; – e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhe entregueis o manto;–e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. – Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. 
          
Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar “ponto de honra” produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas.
          
Por isso é que a lei mosaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribuí o mal com o bem. E disse ainda: “Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.” Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.
        
Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas conseqüências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio às agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino.
          
Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros.
        
É, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.’ (Livro ESE)
        
E concluo com uma reflexão sobre o título, que pode levar a sentimentos de vingança, que segundo o espírito Jules Olivier, em Paris,1862 ( Livro ESSE)‘ é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. É, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem.

Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução

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