
Manter-se otimista sem um pé na realidade pode se transformar numa positividade tóxica. Porém, o inverso também é um problema. Para alguns, ser pessimista é uma espécie de inteligência, uma maneira de se proteger da frustração. Mas é justamente aí que mora o perigo: a proteção contra a dor pode se transformar em uma prisão contra a possibilidade.
O otimismo, ao contrário do que muitos pensam, não é ausência de crítica nem fuga da realidade. É uma disposição interna que reconhece os problemas, mas insiste em buscar caminhos. É um posicionamento diante da vida. Não se trata de negar a dor, mas de recusar que ela seja o ponto final. O otimista vê o que há de errado, mas também vê o que ainda pode ser feito. Enquanto o pessimista paralisa, o otimista se movimenta.
Diversos estudos já demonstraram os efeitos concretos de uma atitude otimista. A psicologia positiva, por exemplo, mostra que o otimismo está fortemente relacionado à resiliência emocional, ao engajamento profissional e até à saúde física. Pessoas otimistas adoecem menos, enfrentam melhor o estresse e se recuperam mais rápido de doenças. O professor de Harvard Shawn Achor, autor de O jeito Harvard de ser feliz, afirma que o cérebro em estado positivo é mais criativo, produtivo e eficaz do que quando está sob pressão, medo ou negatividade.
Mas não é apenas no campo da ciência que o otimismo mostra sua relevância. No mundo do trabalho, por exemplo, ele é quase uma condição de sobrevivência. Quem trabalha com vendas sabe disso melhor do que ninguém: sem otimismo, não há persistência. Cada “não” recebido exige força emocional para seguir oferecendo. E isso vale para outras áreas também. O empreendedor que lança um negócio e vê pouco retorno nos primeiros meses precisa acreditar que o esforço valerá a pena. O criador de conteúdo que publica um vídeo nas redes e recebe meia dúzia de precisa seguir acreditando que, com o tempo, vai alcançar as pessoas certas.
E vale lembrar: todos nós, de alguma forma, estamos vendendo algo. Uma ideia, um projeto, um produto, um ponto de vista. Estamos todos nos expondo, e isso nos torna vulneráveis. Em tempos de internet, essa vulnerabilidade é ainda mais visível: um post sem engajamento, um conteúdo ignorado, um trabalho que passa despercebido — tudo isso pode ser lido como rejeição. E só quem nutre uma postura otimista tem fôlego para continuar mesmo diante da indiferença.
O filósofo francês Émile-Auguste Chartier (pseudônimo, Alain) chamava o otimismo de “dever moral”. Segundo ele, não se trata de acreditar ingenuamente que tudo vai dar certo, mas de agir como se nossas ações pudessem melhorar o mundo. O otimismo que vale a pena não é aquele que espera passivamente que as coisas mudem, mas aquele que se compromete com a mudança.
Esse tipo de otimismo não nasce espontaneamente. Ele precisa ser cultivado. Precisa ser alimentado com boas conversas, leituras inspiradoras e vínculos saudáveis. E talvez o mais importante: precisa de propósito. Quanto mais conectados estamos com um sentido maior para o que fazemos, mais força encontramos para continuar mesmo quando os resultados não aparecem de imediato.
Em um mundo marcado por crises, incertezas e frustrações, o otimismo é uma escolha e construção diária. Ser otimista é decidir que, mesmo diante da dor, ainda vale a pena acreditar. Porque no final das contas, quem acredita, tenta. Quem tenta, persiste. E quem persiste, tem alguma chance de realizar.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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