
Um professor foi agredido por um aluno, adolescente de 16 anos, em Maringá. O fato se tornou conhecido na última quarta-feira, 4. Essa é uma daquelas notícias que nos reviram o estômago. Mais um caso, diriam alguns. Entretanto, essa aparente “normalidade” não pode ser aceita. A agressão com soco e chute é um sintoma doloroso de uma ferida muito maior, que sangra no coração do nosso sistema educacional.
O que esse episódio, tão próximo da nossa realidade aqui em Maringá, realmente nos diz sobre o estado da nossa educação e da nossa sociedade?
Quando um adolescente se sente no direito de questionar as regras da escola com um gesto obsceno e, em seguida, parte para a agressão física contra quem representa a autoridade e o conhecimento naquele espaço, algo está fundamentalmente quebrado.
Não é “coisa de jovem”. É um reflexo de uma crise mais ampla de respeito, de limites.
Vivemos tempos em que as instituições – como a família, a escola e o próprio Estado – parecem perder sua forma, sua força e sua capacidade de oferecer referências claras. A autoridade, nesse contexto, facilmente contestada.
Se as próprias balizas sociais se tornam instáveis, não surpreende que a figura do professor, antes um pilar de respeito, seja também fragilizada.
A fala do APP-Sindicato, que representa os docentes – divulgada em nota oficial – sobre o “acúmulo de pressões e assédios”, o “ambiente adoecedor” e o “abandono sistemático das nossas escolas” é um testemunho contundente dessa realidade. É um grito de quem denuncia uma precarização que vai muito além dos salários e que encontra terreno fértil na falta de valores e referências.
O estopim foi a tentativa do aluno de sair mais cedo “por decisão própria”. Essa “justificativa” carrega um peso simbólico. De um lado, a necessidade de regras para o convívio e o aprendizado. Do outro, o que leva um jovem a essa postura? É apenas rebeldia? Ou há também um desinteresse profundo, uma falta de perspectiva, um sentimento de que a escola, como instituição, não é relevante e tampouco dialoga com seus anseios e objetivos que façam sentido para seu futuro?
Além do mais, sem eximir o agressor de sua responsabilidade, precisamos pensar no contexto. Que tipo de suporte (ou falta dele) esse jovem recebe em casa, na comunidade, para construir um projeto de vida onde a educação tenha valor?
Precisamos de respostas. A segurança física e emocional de professores e alunos não pode ser apenas um discurso protocolar. Precisamos de políticas públicas que transformem a escola em um “ambiente pedagógico seguro e acolhedor”, como alega a Secretaria de Educação do Paraná.
Isso passa por investimento em infraestrutura, equipes multidisciplinares (psicólogos, assistentes sociais), formação continuada para lidar com conflitos e, fundamentalmente, uma valorização real dos profissionais da educação, que os retire dessa sensação de abandono.
O soco que atingiu o professor em Maringá dói em cada um de nós que acredita na educação como pilar de uma sociedade justa e desenvolvida. Não podemos tratar este episódio como mais uma estatística lamentável. Ele é um convite urgente à reflexão e, principalmente, à ação.
De quem é a responsabilidade? Do aluno? Da família? Da escola? Do Estado? Talvez a resposta mais honesta seja: de todos nós. Enquanto sociedade, precisamos urgentemente resgatar o valor da educação, proteger nossos educadores e garantir que a escola seja, de fato, um espaço de formação, respeito e acolhimento – e não um reflexo das nossas negligências e da crescente falta de valores.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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