
Pense na última vez que um comentário, vindo de alguém próximo, o incomodou. Talvez um apontamento do cônjuge sobre um hábito, uma sugestão da sua mãe sobre a criação dos filhos, ou um conselho não solicitado de um amigo. Essa situação, tão comum na vida privada quanto no ambiente de trabalho, nos coloca diante de uma encruzilhada: o que fazemos com uma verdade que não pedimos?
Ao longo da vida, tanto em minhas relações quanto na dinâmica corporativa e acadêmica, noto que a reação a um feedback, seja ele qual for, tende a seguir dois padrões principais. São duas respostas quase instintivas que, em vez de nos ajudarem, acabam por criar ruídos, minar relacionamentos e, principalmente, frear nosso crescimento.
O primeiro caminho é o da implosão. É quando a crítica nos atinge por dentro. A pessoa ouve um apontamento que sinaliza uma falha ou uma prática pouco produtiva e escuta o que foi dito como uma desqualificação de si mesma. A mente é inundada por uma narrativa interna pessimista: “A culpa é minha, sou incompetente”, “Eu nunca consigo acertar nada”, “Está tudo errado comigo”. Com essa reação, é impossível ver o feedback como um presente. Ele se torna apenas mais uma prova da nossa inadequação, gera mágoa e autocrítica.
O segundo caminho, oposto, é o da explosão. É a reação de quem, ao invés de olhar para si, ataca o mensageiro. Diante de um feedback que desafia suas certezas, a pessoa passa a procurar defeitos em quem deu a opinião: “Ele não entende do assunto”, “Ela tem algo contra mim”, “O que ele(a) sabe da minha vida?”. Essa é uma tática de autodefesa, muitas vezes inconsciente, alimentada pelo viés de confirmação — a tendência do nosso cérebro de proteger nossas crenças. É mais fácil desacreditar o carteiro do que aceitar que a carta contém uma notícia desconfortável.
Seja implodindo em culpa ou explodindo em acusações, a raiz do problema é a mesma: um ego ferido que busca se proteger. Na implosão, criamos uma prisão interna de autocrítica. Na explosão, construímos uma fortaleza de certezas, onde apenas ecos de nossas próprias opiniões conseguem entrar. Nos dois casos, o aprendizado não acontece.
Essa dinâmica é devastadora no trabalho, mas talvez seja ainda mais delicada em casa. Um feedback mal recebido do parceiro(a) pode se transformar em dias de silêncio. Uma observação de uma sogra pode virar uma ofensa familiar. Fechamo-nos para a escuta porque o que está em jogo não é apenas uma tarefa ou um projeto, mas nossa identidade como marido, esposa, pai ou mãe.
Então, como podemos desarmar essas reações e transformar o feedback em uma ponte, e não em um muro?
O primeiro passo é um exercício de humildade intelectual, que pode ser resumido em uma única pergunta, a ser feita antes de qualquer reação: “E se houver pelo menos 1% de verdade no que essa pessoa está dizendo?”.
Essa pergunta é a chave que muda tudo. Ela nos convida a separar a mensagem do mensageiro. A crítica pode ter sido entregue de forma desajeitada, talvez até com uma dose de maldade. A “embalagem” pode ser péssima, mas ainda assim pode conter um “dado” valioso para o nosso crescimento.
A habilidade de extrair uma informação útil para nós, independentemente de como ela chega, é um superpoder nas relações humanas. Significa ouvir a preocupação por trás da reclamação do cônjuge, entender o desejo de ajudar por trás do conselho da sogra, e ver a oportunidade de melhoria por trás da crítica do chefe.–
Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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