Início Colunistas O problema não é a sua disciplina, é o culto à sobrecarga

O problema não é a sua disciplina, é o culto à sobrecarga

Se a sensação de que a sua lista de “coisas a fazer” é maior que as horas do dia lhe é familiar; se você corre o dia todo e, no fim, sente apenas esgotamento e culpa pelo que ficou para trás, saiba que esta angústia é o retrato de uma geração.

A prova viva disso me chegou dias atrás, na mensagem de uma seguidora no Instagram. Uma mulher cheia de sonhos, de garra, de vontade de vencer. Ela trabalha o dia todo, está terminando duas pós-graduações e cursando outras duas faculdades, além de cuidar da casa, da vida espiritual e tentar ir à academia. Em sua mensagem, ela pedia ajuda para organizar a rotina.

Ao ler sobre seus planos, sorri com reconhecimento. A resposta era óbvia: não dá, não encaixa.

Ela tem um plano de vida perfeito no papel. Mas a realidade que me descreveu explica por que também relatou estar exausta. Nossa amiga reclamou que o cérebro “não funciona mais” na hora de estudar. E ela ainda sente uma culpa esmagadora por não conseguir cumprir o roteiro impossível que desenhou para si mesma.

O que essa seguidora vive não é um problema de falta de disciplina. O problema dela não tem a ver com uma agenda desorganizada. O problema dela é um sintoma de uma doença do nosso tempo: o culto da sobrecarga.

Nós fomos levados a acreditar que “fazer mais” é sempre melhor. Que “estar ocupado” é sinônimo de ser importante. Que “descansar” é um luxo para os fracos. E nos inscrevemos nessa competição maluca de quem aguenta mais, dorme menos e dá conta de tudo. E qual o resultado? Uma geração de pessoas esgotadas, ansiosas, vivendo no limite do burnout.

Precisamos entender algo que a ciência já provou: nossa força de vontade, nossa energia mental, é uma bateria finita. Não é um poço sem fundo. A história dessa seguidora é a de alguém que está tentando rodar uma usina de energia com a bateria de um relógio de pulso. A conta simplesmente não fecha. A procrastinação e a falta de energia não são a causa do problema dela; são o grito de socorro de um sistema que entrou em colapso.

Então, como sair dessa armadilha? A solução não é um novo aplicativo de agenda – nem um curso de “gestão do tempo -, mas algo mais profundo. Para essa jovem mulher e todos que vivem essa loucura, é preciso praticar algumas ideias.

Primeira: a arte de escolher e de renunciar. A sabedoria não está em fazer tudo, mas em escolher o que é mais importante agora. Para começar algo novo, talvez você precise ter a coragem de pausar algo que já está em andamento. Viver é fazer escolhas, e toda escolha madura é também uma renúncia.

Segunda: a regra dos 5 minutos. Se a meta é estudar por duas horas e isso parece uma montanha, mude a meta para: “vou abrir o livro e ler por apenas 5 minutos”. O segredo não é a grandiosidade da tarefa, mas a vitória sobre a inércia. O movimento gera mais movimento. Comece ridiculamente pequeno.

E terceira, e talvez a mais importante: dê a si mesmo a permissão para o “suficiente”. Lute contra o perfeccionismo. Nem todo dia é dia de ser nota dez. Há dias em que o básico já é uma vitória imensa e precisa ser comemorada. A autocompaixão não é uma desculpa para a preguiça; é o combustível para a jornada de longo prazo.

Para essa seguidora e para todos nós que nos sentimos esgotados por essa pressão: pare de se cobrar a perfeição. Abrace o progresso, por menor que ele pareça. A vida não é uma corrida de 100 metros. É uma maratona. E em maratonas, o segredo não é a velocidade alucinante, mas o ritmo constante e a sabedoria de dosar o passo.

Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras |  Doutor em Educação

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