
Trinta bilhões de reais. Por mês. Essa é a estimativa impressionante do Banco Central para o dinheiro que nós, brasileiros, estamos movimentando em apostas online neste ano de 2025. É um volume de dinheiro absurdo, que revela o tamanho de uma nova febre nacional. Mas por trás desses números gigantes, se escondem dramas muito pessoais, silenciosos e devastadores.
Um desses dramas veio a público essa semana: a história de um dentista que, por causa do vício em apostas, roubou 400 mil reais dos próprios filhos. Pense: como uma aparente diversão, uma aposta no jogo do fim de semana, se transforma numa força capaz de destruir uma vida inteira? Como um pai rouba os próprios filhos – e tem filhos roubando os pais também – para jogar nas bets?
O caminho para o vício frequentemente é ladeira abaixo – e começa com uma escolha. Ninguém tropeça e cai na dependência por acidente. A primeira aposta é uma escolha, movida pela emoção, pela esperança (ou seria ilusão?) de ganhar um dinheirinho extra.
O problema é que essa trilha é projetada para viciar. No começo, é a emoção da possibilidade, o “quase ganhei” que proporciona a mesma adrenalina da vitória. Depois, vira um hábito. A aposta deixa de ser um evento isolado e passa a ser uma resposta automática para o tédio, para a ansiedade, para um dia ruim.
E, quando isso acontece, a química do cérebro já mudou. A busca não é mais por dinheiro; é por aquela onda de dopamina. É aqui que a liberdade da escolha começa a se transformar em compulsão.
Aos poucos, o que era aparentemente uma mera diversão vira uma necessidade, uma obsessão. O que começa com uma escolha, vira uma doença. O jogo se torna um vício. E o vício é uma dependência que destrói a capacidade de raciocinar, de agir com bom senso.
A destruição que esse vício causa vai muito além do dinheiro. É uma destruição de laços, de relacionamentos. A confiança, que leva anos para ser construída, se desfaz em semanas com as mentiras que o vício exige para se alimentar. O vício em apostas online, nas chamadas bets, está destruindo famílias, destruindo o orçamento de muita gente. Destruindo sonhos.
Eu mencionei o caso desse pai de família que roubou os filhos, mas existem jovens que estão comprometendo as finanças pessoais a ponto de trocarem fazer uma faculdade pelas apostas online. Ou seja, deixam de garantir um futuro melhor pela ilusão de ganhar nas bets.
Então, existe uma saída dessa ladeira? Sim. E ela começa com uma nova escolha. O primeiro passo é reconhecer o vício. O viciado precisa admitir para si e para os outros que o que começou como uma escolha virou um vício, que ele perdeu o controle e está se destruindo.
O segundo passo é pedir ajuda. Ninguém sai de um vício sozinho. É preciso buscar ajuda profissional, de psicólogos e psiquiatras, e grupos de apoio, como os Jogadores Anônimos (JA), que salvam vidas todos os dias. Os jogadores anônimos, por exemplo, se reúnem inclusive de forma online.
E o terceiro passo é criar barreiras. É preciso tomar atitudes concretas para dificultar o acesso ao jogo. Entregar o controle das finanças a alguém de confiança. Restringir o uso de celular e outros dispositivos digitais. Se auto excluir dos sites de apostas. Mudar a rotina.
Os 30 bilhões de reais gastos por mês em apostas mostram que a isca é poderosa e está por toda parte. A história do dentista nos lembra que o preço que se paga é sempre alto demais. A primeira aposta é uma escolha. Mas a boa notícia é que a decisão de parar e pedir ajuda também é uma escolha. Se você está nessa ladeira, escolha a sua vida de volta, hoje.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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