
Sabe aquela pontada de incômodo quando o seu vizinho troca de carro? Aquela frustração que bate quando um colega de trabalho, que você nem acha tão bom assim, é promovido? Muitas vezes, gastamos um tempo enorme analisando o sucesso dos outros, a vida dos outros, os erros dos outros… E, enquanto isso, a nossa própria vida fica parada, esperando.
Sem perceber, nos transformamos em “fiscais da vida alheia”. E essa é uma armadilha destrutiva para o nosso crescimento. Enquanto olhamos para o outro, deixamos de olhar para nós mesmos; deixamos de investir em nós mesmos.
Cristo, em sua sabedoria divina, já nos deu o diagnóstico há mais de dois mil anos. Ele citou nossa tendência de reparar no cisco que está no olho do nosso irmão, sem notar a trave que está em nosso próprio olho.
Essa metáfora de Jesus não é só uma lição de moral sobre hipocrisia. É uma aula sobre foco e investimento de energia. É impossível usar 100% da sua energia para tirar a sua trave se você está gastando 90% do seu tempo mental medindo o cisco do outro.
E o que é fascinante é que a psicologia moderna deu um nome para essa condição. Chama-se “Locus de Controle”. Simplificando, existem dois jeitos de enxergar a vida.
A pessoa com Locus de Controle Externo coloca o foco sempre fora de si. A culpa pela infelicidade é do chefe injusto, do governo corrupto, da economia parada, do colega que teve “sorte”. A vida desse tipo de pessoa é reativa. A pessoa se coloca na vida como passageira, vítima das circunstâncias.
Já a pessoa com Locus de Controle Interno entende que o único território que ela realmente comanda é o seu “metro quadrado”. O foco dela está no que ela pode fazer. A vida dela é proativa. Ela é quem assume a responsabilidade pela própria jornada.
O foco no que o outro faz ou deixa de fazer é o Locus de Controle Externo em ação. É a mentalidade que gasta o dia perguntando: “Por que ele conseguiu e eu não?”, “Por que a vida dele é tão fácil?”, “Por que ele ganha e eu não ganho?”, “Por que o sistema é tão injusto?”. Essas perguntas nos enchem de amargura e não nos levam a lugar nenhum.
O foco no meu, na minha vida, na minha carreira, nas minhas relações é o Locus de Controle Interno. É a mentalidade que, diante da mesma situação, faz perguntas radicalmente diferentes: “O que eu preciso fazer para chegar lá?”, “O que eu posso aprender com o sucesso dele?”, “Quais são os erros que eu estou cometendo e que preciso corrigir?”.
“Mas, Ronaldo”, você pode me perguntar, “focar só em mim, não é egoísmo?”. Não. E essa é a diferença fundamental. Egoísmo é ver uma pessoa caída ao seu lado e não se importar, porque está ocupado demais consigo mesmo. Gente egoísta é gente que não repara na dor alheia, não tem disposição para ajudar… É gente que acha que só ela merece as coisas boas da vida.
Por outro lado, “focar no seu” é parar de fiscalizar quem está correndo na pista ao lado e se concentrar em correr a sua própria prova da melhor forma possível. Focar no seu não é sobre ignorar o sofrimento das pessoas ou nunca ter tempo para estender a mão para quem precisa. É sobre parar de usar o mundo como desculpa para não cuidar da sua própria vida.
Pegou a ideia?
Da próxima vez que você se sentir incomodado com a promoção do seu colega, em vez de perder tempo reclamando que por que ele foi promovido e não você, tenha a coragem de perguntar: “O que eu preciso fazer para ser o próximo? O que eu posso aprender com ele?”. Certamente, há algo que você pode fazer por você, tem algo que merece a sua atenção.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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