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A epidemia da insatisfação: o raio-x do profissional brasileiro

Você se sente cansado? Ansioso? Com aquela sensação de que falta ânimo para as coisas do dia a dia? Posso garantir, não é apenas uma impressão. É uma epidemia.

Uma pesquisa recente da Vidalink, repercutida pela revista Você RH, traçou um raio-x preocupante do profissional brasileiro. E os números são um alerta. A insatisfação com o bem-estar geral aumentou: 29% das mulheres estão insatisfeitas (um aumento de 4 pontos) e 17% dos homens também (aumento de 5 pontos).

Estamos, comprovadamente, mais infelizes. E o que estamos fazendo a respeito? A pesquisa mostra que estamos falhando no básico. O número de pessoas que praticam exercícios físicos com frequência (pelo menos uma vez na semana) caiu de 52% para 41% no último ano. A satisfação com a própria dieta também caiu drasticamente.

O resultado é alarmante: 63% dos profissionais relatam experimentar sentimentos negativos (como ansiedade e angústia) com frequência. Estamos vivendo sob o domínio da fadiga mental.

E como estamos lidando com isso? O estudo revela um padrão de cuidado reativo. Apenas 12% fazem terapia regularmente, e 30% dos trabalhadores admitem não fazer nada para cuidar da saúde mental. A resposta para o mal-estar tem sido, cada vez mais, a medicação. Estamos tratando o sintoma, não a causa.

Mas o que a pesquisa revela de forma mais profunda é que esse esgotamento não é democrático. Ele tem alvos preferenciais. Sete em cada dez mulheres relatam ansiedade ou angústia, contra cinco em cada dez homens – um reflexo claro da sobrecarga da “dupla jornada”. Pessoas pretas e pardas também enfrentam barreiras de acesso ao cuidado muito maiores.

E a Geração Z? É a mais insatisfeita de todas (30%), mas, paradoxalmente, é a que mais declara “não fazer nada” para cuidar da saúde mental. E aqui cabe questionar: será mero comodismo, como alguns julgam? Ou, como aponta o CEO da Vidalink, Luis Gonzalez, é o paradoxo de uma geração que vive sob imensa pressão por performance, mas sem os recursos (de tempo e de estrutura) para conseguir se cuidar?

A resposta para essa epidemia de esgotamento não virá de aplicativos de meditação oferecidos pela empresa. O estudo publicado pela Você RH é claro: a solução depende da maturidade das lideranças.

Nós nos acostumamos a colocar a responsabilidade do bem-estar 100% nas costas do indivíduo. Mas a reportagem aponta que o papel dos gestores é essencial para transformar o discurso de “cuidado” em prática real. E o que isso significa?

Significa praticar a empatia no dia a dia. Significa ouvir a equipe de verdade. Significa identificar as causas reais da queda de desempenho, que muitas vezes são falta de sono, metas excessivas ou sobrecarga de horas extras. Como diz a consultora Lina Nakata, às vezes a solução não é “resiliência”, é descanso.

Para os especialistas, o futuro do bem-estar nas organizações depende de líderes que avaliem honestamente a sobrecarga de trabalho e promovam espaços de segurança psicológica.

A lição que fica é um apelo de mão dupla. Primeiro, um apelo de autocompaixão para o profissional: seu cansaço é legítimo e, muitas vezes, a causa dele está no sistema em que você está inserido. Mas, principalmente, um apelo para os líderes, gestores e donos de empresas que leem esta coluna: o verdadeiro bem-estar corporativo não é sobre benefícios. É sobre a coragem de criar um ambiente que não adoeça as pessoas.


Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras |  Doutor em Educação

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