
Estamos nos aproximando da contagem regressiva. Em poucos dias, o mundo inteiro parará para celebrar um dos rituais mais antigos e universais da humanidade: a passagem de ano. Existe uma atmosfera diferente no ar, uma crença coletiva de que, quando o relógio marcar a meia-noite do dia 31 de dezembro, algo mágico acontecerá.
Muita gente se veste de branco para pedir paz. Come lentilhas para atrair dinheiro. Pula ondas, faz promessas e brinda com espumante. Tudo isso é culturalmente bonito e emocionalmente válido. No entanto, precisamos conversar sobre o perigo que se esconde por trás dessa festa: a ilusão da “Virada Mágica”.
Há uma tendência humana de terceirizar a responsabilidade da mudança para o calendário. Nós agimos como se o Ano Novo fosse uma entidade autônoma, capaz de apagar nossos erros, zerar nossas dívidas e restaurar nossos relacionamentos, simplesmente porque a Terra completou mais uma volta ao redor do Sol.
Mas a verdade é que o Ano Novo não tem poder. O dia primeiro de janeiro é um dia comum. O sol nascerá no mesmo horário, a gravidade continuará operando da mesma forma e, o mais importante, nós acordaremos sendo exatamente as mesmas pessoas que éramos no dia 31 de dezembro.
Os problemas não respeitam a virada do calendário. A falta de dinheiro não desaparece com os fogos de artifício. O excesso de peso não evapora com o brinde. A crise no casamento não se resolve com a cor da roupa. As dificuldades atravessam a fronteira do ano junto conosco, na nossa bagagem emocional.
Por que é importante dizer isso? Para evitar a frustração de fevereiro.
Quando depositamos uma esperança exagerada no “poder do ano”, nós nos colocamos em uma posição passiva. Ficamos esperando que 2026 “traga” coisas boas. Mas anos não trazem nada; anos apenas oferecem tempo. Quem precisa buscar, construir e transformar somos nós.
Os rituais são necessários, como afirma Byung-Chul Han. A psicologia chama datas como o Ano Novo de “marcos temporais”. Eles são úteis porque nos permitem organizar a vida em ciclos, fechar balanços e renovar as esperanças. Porém, a esperança, por si só, não é uma estratégia. Esperança sem ação é apenas ilusão.
A verdadeira mudança não acontece de fora para dentro, através de superstições ou rituais. Ela acontece de dentro para fora, através de alterações de comportamento. O que transformará a nossa vida nos próximos doze meses não é a “magia” da virada, mas a consistência dos nossos hábitos.
Nós costumamos superestimar o que podemos fazer em um ano e subestimar o que podemos fazer em um dia. Fazemos listas gigantescas de resoluções — “vou emagrecer”, “vou ficar rico”, “vou aprender inglês” — mas falhamos na execução da primeira semana.
O segredo para que o próximo ano seja realmente novo não está nas grandes promessas, mas nas pequenas disciplinas. Se você quer um ano diferente, precisa ter dias diferentes.
Em vez de desejar que “tudo mude”, escolha um comportamento específico para alterar. Um vício para abandonar. Uma virtude para cultivar. A mudança real é silenciosa, gradual e trabalhosa. Ela não tem o glamour dos fogos de Copacabana, mas é ela que sustenta a vida quando a festa acaba.
Portanto, ao se aproximar da meia-noite, celebre. Abrace quem você ama. Renove a sua fé. Mas faça isso com a consciência de que a caneta que escreve os próximos capítulos continua nas suas mãos.
Não deseje apenas um “Feliz Ano Novo”. Comprometa-se a construir um. O ano não será novo se a mentalidade continuar velha. A “mágica” não está na data; a mágica está na decisão de fazer diferente.–
Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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