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As preocupações nos consomem a vida

Anos atrás, esbarrei com um uma frase que ainda guardo com carinho. Ela diz: “Preocupar-se é tão mau como ter medo. Só serve para tornar as coisas mais difíceis”.

Não sou um sujeito despreocupado. Tenho ansiedade diante do que é incerto, desconhecido. Mas melhorei muito. Deixei de tentar controlar tudo e viver na expectativa do que está por vir. Neste momento, por exemplo, não sei bem como serão minhas próximas semanas ou meses. Sofri um acidente, fui atropelado enquanto estava de motocicleta, tive fratura exposta e, após três cirurgias, me recupero em casa. Não há nada de agradável em ter pouquíssimo controle da própria recuperação. Não é divertido ter dúvidas sobre em quanto tempo conseguirei fazer coisas básicas sozinho – ir ao banheiro, por exemplo. Entretanto, preocupar-me não me coloca no comando. Não me ajuda a evitar o que pode acontecer. Apenas me faz sofrer, causa ansiedade, tira o sono e impede, inclusive, o raciocínio claro e a própria recuperação. 

A frase que citei inicialmente é do escritor norte-americano Ernest Hemingway. Está na belíssima obra “Por quem os sinos dobram“. Ela aparece no contexto em que um personagem tem uma importante missão. Entretanto, ao receber as orientações de seu superior, busca apenas dados sobre o que precisa fazer. Ele prefere não ter todos detalhes; não quer saber nada além daquilo que carece para executar bem a tarefa que lhe foi proposta.

Acho essa atitude admirável. Afinal, o que importa é o que temos nas mãos, o que controlamos. 
O que ganhamos ao ficar projetando o que pode acontecer? Melhoramos nossas ações? Desenvolvemos estratégias mais eficazes? Ou será que nossas preocupações acabam por afetar o cotidiano atrapalhando até mesmo nosso desempenho em demandas que requerem nossa atenção imediata?

Sabe, a preocupação faz com que nossa mente se volte para situações que ainda podem ocorrer. A gente se ocupa de algo, problematiza e nem sabe se vai ou não ser do jeito que pensamos.
Curiosamente, quase sempre o desfecho é bem diferente daquele que esperávamos. Ou seja, sofremos à toa. Não precisava, mas gastamos tempo, energia em algo imaginário. Nossa mente projeta possibilidades, o quadro se amplia e passamos horas, dias, semanas angustiados.

Hemingway é preciso ao dizer que “preocupar-se é tão mau como ter medo”. Da mesma forma que o medo paralisa e nos impede de agir, a preocupação nos cansa, desgasta e torna os problemas maiores do que eles de fato são.
Sei que é quase impossível viver sob a lógica “deixa a vida me levar” – e nem é recomendável que se faça isso. Entretanto, estar bem é estar em paz consigo mesmo. E isso passa pela disposição de disciplinar os pensamentos e ocupar-se mais do aqui e agora. A gente só tira a blusa de frio do guarda-roupas quando o inverno chega. A lógica é a mesma: o que não está em nossas mãos, o que ainda não temos como resolver deve permanecer onde está, acomodado, silenciado, à espera do momento certo de ser experimentado, confrontado, solucionado.–

Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação

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