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Você sabe o que quer?

Lendo o livro do Fernando Savater, “Ética para meu filho”, encontrei um princípio interessante e bastante desafiador. Segundo o escritor espanhol, o mais importante valor ético deveria ser “faça o que quiser”. Porém, ele esclarece: “faça o que quiser” é diferente de “faça o que está com vontade”. A vontade está no campo dos desejos, daquilo que nossos instintos, nossas emoções pedem. O querer está relacionado a uma atitude racional, de boa escolha.

Vontade e querer geralmente entram em conflito, quando analisamos com atenção o que acontece conosco. Um exemplo bem básico: a vontade pode ser de comer uma barra inteira de chocolate, mas o querer pode ser de ter uma vida fitness, saudável e com menos açúcar. A vontade, neste exemplo, é uma reação imediata; o querer considera os resultados esperados a longo prazo – o que, de fato, queremos para a nossa vida e não apenas para o momento presente.

O problema é que temos muita dificuldade para identificar o que realmente queremos. Geralmente, por falta de um olhar mais atento para a vida, somos movidos por nossas vontades e o que queremos é ignorado.

Quantos homens e mulheres querem ter um relacionamento feliz, mas cedem ao desejo, traem e destroem seus sonhos? Por isso, saber o que a gente quer é determinante para a nossa felicidade, para ter a vida boa que desejamos.

O economista comportamental Dan Arielly, no livro “Previsivelmente irracional”, relaciona inúmeras pesquisas que comprovam que somos pessoas que geralmente negligenciamos as boas escolhas em nome de nossos desejos imediatos.

Dan Arielly cita que o maior assassino nos Estados Unidos não é o câncer nem a doença cardíaca, tampouco o tabagismo ou a obesidade. É a incapacidade de fazer escolhas inteligentes e de superar os próprios comportamentos autodestrutivos. Cerca de metade das pessoas tomará uma decisão sobre seu estilo de vida que acabará levando-a prematuramente ao túmulo.

Como se isso já não fosse bastante ruim, parece que o ritmo em que tomamos essas decisões mortais vem aumentando de forma alarmante. Porém, penso que as más escolhas e os comportamentos autodestrutivos acontecem em todos os aspectos da vida. Muita gente joga a vida fora porque escolhe fazer o que dá vontade.

Então, lembra da perguntinha que fiz no começo? Você sabe o que quer? Saber o que você quer para sua vida define as suas ações, norteia as suas escolhas. Talvez você tenha vontade de se divertir, mas você quer magoar, ofender, se perder?

Como temos dificuldade para enfocar os benefícios de longo prazo, precisamos examinar com mais atenção as nossas escolhas. E reparar se elas são coerentes com nosso propósito, com nossos sonhos.

Viver apenas atendendo nossas vontades não nos leva para bons lugares. Nossas vontades geralmente resultam em problemas de saúde – como obesidade, diabetes, hipertensão… Nossas vontades levam ao comportamento do tipo “bateu-levou”, à ausência de conexões, ao sexo sem compromisso etc.

Por outro lado, quando a gente sabe o que quer, silenciamos para não magoar, não comemos tudo que dá vontade, fugimos das tentações… Quando a gente sabe o que quer, plantamos hoje, para colher depois – e isso no relacionamento, mas também no mundo do trabalho e na nossa espiritualidade.

Portanto, pare, pense… O que você quer pra você? Qual vida você deseja? O que você precisa fazer para ter a vida que você sonha ter?

Lembre-se: quem sabe o que quer, vê a vida a médio e longo prazos; quem faz apenas aquilo que dá vontade, pode se divertir hoje, mas colhe amanhã aquilo que plantou. E se nada plantou, nada terá para colher.

Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras |  Doutor em Educação

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